“O G-77 está mais unido do que nunca”.

Data: 11/12/2009

“O G-77 está mais unido do que nunca”.


“Se houve um momento em que o G-77 esteve mais unido do que nunca, é este”, afirmou ontem ao TerraViva a negociadora venezuelana Claudia Salerno, depois que um pais insular de apenas 26 quilômetros quadrados na Polinésia sacudiu o tabuleiro na COP-15. a voz dos pequenos países insulares do oceano Pacífico foi ouvida forte em Copenhague quando a delegação de Tuvalu, uma ilha com 11.280 habitantes afetada pela elevação do nível das águas, exigiu com firmeza a aprovação de um acordo que inclua obrigações legais de redução de emissões também para nações emergentes, como Brasil, China, Índia e África do Sul, e não apenas para as do Norte industrializado.

O desafio a essas grandes economias foi surpreendente e tocou a parte mais sensível da polêmica prévia à 15ª Conferencia das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas Sobre a Mudança Climática (COP-15 que acontece até o próximo dia 18 na capital dinamarquesa. Os Estados Unidos, que não integram o Protocolo de Kioto, querem atrair os países emergentes para a lista dos que devem estar obrigados a reduzir as emissões de gases-estufa.

O Protocolo não inclui mandatos para as nações do Sul, e os países emergentes resistem a um novo acordo que os obrigue, argumentando que a dívida climática é das nações que cresceram após séculos de industrialização à custa da contaminação ambiental, enquanto eles, por fim, têm direito ao próprio desenvolvimento. Mas hoje os países emergentes são responsáveis por mais da metade das emissões mundiais de gás-estufa, responsáveis pelo aquecimento global.

A nota discordante no coro do G-77 (grupo dos 77 países em desenvolvimento que negociam em conjunto junto à ONU) não era esperada por esse flanco, embora existissem razões para prevê-lo. Os Estados insulares do Pacífico são, sem dúvida, os que estão sob mais forte pressão pela mudança climática. A Organização das Nações Unidas disse que o aquecimento do planeta já causou o desaparecimento de várias ilhas, e obrigará o deslocamento de um bilhão de pessoas nos próximos 40 anos. Tuvalu pode desaparecer do mapa.

Salerno, diretora-geral de Gestão e Cooperação Internacional do Ministério do Poder Popular para o Meio Ambiente da Venezuela, afirmou que a responsabilidade é do Norte industrial, não dos países emergentes. “O problema que enfrentamos agora não é resultado dos processos de industrialização recentes. O direito ao desenvolvimento aqui não está em questão. O questionamento é para aqueles que há 200 anos Estão destruindo este planeta”, disse à IPS/TerraViva.

“São eles que têm de parar. A questão é um pouco dramática cientificamente, porque os esforços de todos os países em desenvolvimento não servirão para reparar o problema. Há 20 países que têm o poder de fazer a diferença para o mundo inteiro”, acrescentou Salerno. A delegada, que na Dinamarca participou de uma conferência conjunta dos noves países que integram a Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), disse que, contrariamente ao que parece, o G-77 se mantém sólido, especialmente por uma rejeição comum aos movimentos de algumas nações do Norte nesta conferência.

“Creio que, contrariando o que certa imprensa disse, todas as ações dos países desenvolvidos buscam minar o processo, o que nos levou a uma união maior”, afirmou, referindo-se ao rascunho de acordo elaborado pela Dinamarca e que vazou em Copenhague que exoneraria de obrigações os países ricos. “Consideramos que é melhor que esse documento tenha vindo à público agora e não no dia 18, e que tivéssemos trabalhando sem saber que ocorria algo por trás. Os países comprometidos com o processo não dão a menor atenção a esse papel. Não significa absolutamente nada, nem para os países do G-77 e nem para os da Alba”, disse Salerno. A Alba é formada por Antiga e Barbuda, Bolívia, Cuba, Dominicana, Equador, Honduras, Nicarágua, San Vicente e Granadinas e Venezuela.

Por sua vez, o delegado cubano Pedro Luis Pedroso disse ao TerraViva que Tuvalu tem direito de apresentar suas próprias propostas de acordo com suas preocupações nacionais, com estabelece a Convenção. O subdiretor de Assuntos Multilaterais da Chancelaria de Cuba reconhece que o G-77 ainda não havia analisado como grupo a iniciativa desse país insular. Os membros da Alba apresentam uma postura exigente e ambiciosa em Copenhague. Ontem, alem de pedir a aprovação de um acordo legalmente vinculante que jogue toda a responsabilidade sobre o Norte, exortaram a comunidade internacional a “mudar os padrões e consumo para atender as causas da mudança climática, e não apenas suas conseqüências”.

Entretanto, suas posturas não parecem ser plenamente acompanhadas pelo resto da comunidade latino-americana. Vários outros países da região, incluindo o Brasil, anunciaram reduções voluntárias de suas emissões de gás-estufa. “Cada país tem sua perspectiva nacional, mas creio que na essência, nos fundamentos, todos compartilhamos as mesmas preocupações e posições. Agora, a forma de inseri-las varia segundo os enfoques, mas acredito que nessa essência temos uma comunidade de opinião”, afirmou Pedroso ao TerraViva. (IPS/Envolverde



(Envolverde/IPS/TerraViva)


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